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enxugara toda lagrima

Paixão, Glória e Amor

A liturgia deste 5º Domingo da Páscoa nos convida a mergulhar no mistério pascal em sua totalidade. Ele não é dividido em etapas isoladas, mas é uma só realidade viva, que pulsa no coração da Igreja: paixão, morte e ressurreição — como uma única realidade de amor. A Palavra de Deus se desdobra em três momentos profundamente conectados: o sofrimento necessário, a promessa da glória, e o mandamento do amor.

Na Primeira Leitura, extraída dos Atos dos Apóstolos (14,21-27), vemos São Paulo e São Barnabé em missão, fortalecendo o ânimo dos discípulos. Paulo afirma com clareza: “É preciso que passemos por muitos sofrimentos para entrar no Reino de Deus.”

Aqui, a cruz aparece de modo visível: tribulações, perseguições, dores. Mas a glória de Deus já está presente, ainda que de forma invisível, escondida na fidelidade dos que perseveram.

Na Segunda Leitura, o Apocalipse (21,1-5) nos apresenta um cenário glorioso: “Vi um novo céu e uma nova terra… Vi a Cidade Santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, de junto de Deus, vestida qual esposa enfeitada para o seu marido.”

A Jerusalém Celeste simboliza a Igreja glorificada, renovada pela Páscoa do Cordeiro. A glória é o que salta aos olhos: não há mais luto, nem dor, nem morte. No entanto, escondido sob esse esplendor, está o sinal da cruz — pois os que habitam esta cidade passaram pela grande tribulação e carregam em si as chagas gloriosas do Cordeiro.

“Deus enxugará toda lágrima dos seus olhos. A morte não existirá mais, e não haverá mais luto, nem choro, nem dor.”

Este contraste entre o sofrimento presente e a glória futura nos prepara para compreender o Evangelho de João (13,31-35), que se passa no momento da traição de Judas. É interessante observar que iniciamos o evangelho com Judas, o nosso irmão, que traiu o Senhor, saindo do cenáculo, saindo do grupo dos doze, saindo da comunidade:

“Depois que Judas saiu do cenáculo… era noite.”

A noite, símbolo das trevas e da aparente vitória do mal. Mas justamente neste momento, Jesus diz:

“Agora foi glorificado o Filho do Homem.”

Não foi depois da Ressurreição. Foi na hora da traição, no começo da Paixão, que Jesus revelou sua glória. Isso nos ensina que, para Cristo, a cruz é a exaltação, o trono do amor.

É nesta mesma hora que Ele nos dá o novo mandamento:

“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei.”

O amor é o fio que une tudo: cruz e ressurreição, dor e glória, Igreja militante e Igreja triunfante.

São João da Cruz nos recorda: “Ponde amor onde não há amor e tirareis amor.”

Na escola da cruz, aprendemos que o caminho da glória é o amor que se dá até o fim, mesmo nas noites escuras da alma.

Jesus continua confiando em nós, mesmo em nossa fraqueza. Mesmo quando, como Judas, saímos da comunhão, Ele permanece fiel, e nos dá o Espírito Santo como força para amar. A Igreja, com toda a sua fragilidade, é ainda o lugar onde Deus escolheu habitar:

“Esta é a morada de Deus entre os homens. Eles serão seu povo, e Deus estará com eles.” (Ap 21,3)

Não tenhamos medo: o sofrimento presente esconde uma glória futura. A tribulação que hoje enfrentamos não é sinal de derrota, mas parte do caminho da salvação. Como diz o Apocalipse:

“Estas palavras são dignas de fé e verdadeiras.” (Ap 21,5)

Caríssimos irmãos, olhem para si mesmos, olhem ao redor. Somos, ao mesmo tempo, a pobreza e a glória da Igreja. Tão frágeis, tão deste mundo… mas também tão destinados ao céu! Vivamos com fidelidade nossa vida de Igreja. Como Cristo, glorificaremos o Pai na entrega diária, no amor vivido com profundidade, até que todas as lágrimas sejam enxugadas.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.