Categorias

Nao se preocupam com a ruina de Jose 20250923 202108 0000

Ruína de José: um Chamado à Compaixão

A liturgia deste 26° domingo do tempo comum nos coloca diante de um espelho: a dureza de nosso coração e a falta de compaixão.

Ai de vós que curtem a vida, que destinam seus dias ao gozo, que entregam suas vidas na euforia desenfreada, ignorando completamente todos ao redor, considerando apenas a própria satisfação e abandonando quem precisa sem nada.

O profeta Amós relata: “Não se preocupam com a ruína de José” (Am 6, 6).

Essa “ruína de José” pode ser compreendida de várias formas:

Primeiro, recordamos o José vendido pelos irmãos (cf. Gn 37,23-28). Ele foi lançado no fosso, abandonado à própria sorte. Quantos “Josés” nós mesmos lançamos ao sofrimento quando escolhemos a indiferença, fechamos os olhos à dor do outro e alimentamos nossa própria luxúria e orgulho?

Depois, vemos o José que interpretou os sonhos do faraó, anunciando o tempo de fartura seguido por grande seca (cf. Gn 41,29-30). Aqui, a Escritura nos alerta: aqueles que vivem hoje no excesso, sem partilhar, sem cuidar dos seus, experimentarão a ruína, pois tudo pode ser tirado de repente, e somente quem soube repartir encontrará sustento e vida.

Por fim, a “ruína de José” pode apontar para os sofrimentos da própria família, daqueles que são carne da nossa carne. Cada povo é uma família alargada, com parentes em comum. E tua família está a sofrer e mesmo assim tu ignora os sofrimentos dos teus e esbanja em luxuria. Isto é viver uma morte interior, tornando-se indiferente diante da dor dos que nos pertencem.

No Evangelho, Jesus confirma essa denúncia ao narrar a parábola do rico e Lázaro (cf. Lc 16,19-31). O rico viveu fechado em seu luxo, ignorando o pobre à sua porta. Ao morrer, experimenta a condenação e pede sinais extraordinários para os que ficaram na terra. Mas Jesus afirma: “Se não escutam a Moisés e aos Profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não acreditarão” (Lc 16,31).

Jesus revela que para os corações endurecidos, mesmo que Ele morra e renasça, mesmo assim não acreditaram. Cristo já diz o que acontecerá e afirma que as pessoas fechadas em si mesmas não estão abertas para Deus.

São Paulo, na segunda leitura, dirige-se a Timóteo. Elogiando-o com as mesmas palavras que falaria de si próprio no fim de sua vida: combateu o bom combate e guardou a fé.

E falando também para cada um de nós: “Guarda o mandamento sem mancha nem culpa, até a manifestação de Nosso Senhor Jesus Cristo” (1Tm 6,14)

Ele recorda que o dia e a hora em que prestaremos contas só Deus conhece, mas até lá somos chamados a permanecer firmes, a combater o bom combate, a guardar a fé com fidelidade (cf. 2Tm 4,7).

A liturgia de hoje, portanto, é um convite forte: não se deixar prender pelo luxo, pela indiferença e pelo egoísmo, mas reconhecer a dor dos nossos irmãos e responder com compaixão. Só assim poderemos comparecer diante do Senhor com as mãos cheias de amor e não vazias de obras de misericórdia.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.