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Eu e o Pai

Eu e o Pai somos um: A Voz do Pastor na Trindade

Neste quarto domingo da Páscoa, Ano C, a liturgia da palavra nos convida a aprofundar o mistério da identidade de Jesus e sua íntima comunhão com o Pai e o Espírito Santo. Um detalhe essencial desponta nas palavras do Evangelho de João: “Eu e o Pai somos um” (Jo 10,30), e em outra passagem complementada: “Não os deixarei sozinhos, virá o Paráclito” (Jo 14,16-18). Estas expressões revelam, de forma velada, mas profundamente verdadeira, a presença da Santíssima Trindade no coração da revelação cristã.

Santo Agostinho, um dos maiores teólogos da Igreja, dedicou-se amplamente a meditar sobre a Trindade em sua obra monumental De Trinitate. Para ele, a frase “Eu e o Pai somos um” é uma afirmação clara da consubstancialidade entre o Pai e o Filho — isto é, ambos compartilham a mesma substância divina, embora sejam pessoas distintas. Agostinho ensina que o Filho não é inferior ao Pai, mas um com Ele na essência e na divindade:

“Não dois deuses, mas um só Deus; não duas luzes, mas uma só luz.” (De Trinitate, I, 7,14)

Esse mistério da unidade na distinção se completa com a promessa do Espírito Santo, o Paráclito. Ao dizer que enviará o Consolador, Jesus não apenas promete presença e auxílio, mas revela a ação do Espírito na vida da Igreja. Agostinho compreende o Espírito Santo como o amor subsistente entre o Pai e o Filho, o dom por excelência que une e move a Trindade e, por graça, une também os fiéis a Deus.

Ao afirmar: “Não os deixarei sozinhos”, Jesus consola seus discípulos diante da iminente separação física por sua ascensão. No entanto, não é um abandono, mas um novo modo de presença — mais íntima, mais interior, realizada pelo Espírito.

“O Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas” (Jo 14,26).

Para Agostinho, esse envio inaugura a era da Igreja, na qual o Espírito guia os corações para a verdade plena, sempre em comunhão com o Filho e o Pai.

Este domingo é tradicionalmente conhecido como o Domingo do Bom Pastor. A leitura de João 10 reforça essa imagem: Jesus conhece suas ovelhas e dá a vida por elas. Ele afirma:

“As minhas ovelhas escutam a minha voz, eu as conheço e elas me seguem” (Jo 10,27).

Esta voz é a mesma que ressoa no íntimo do coração, por meio do Espírito Santo. O Bom Pastor, o Pai, e o Paráclito agem como uma só realidade: Deus Trindade que cuida, guia e salva.

Assim, a Ascensão de Jesus — que logo celebraremos — não é ausência, mas plenitude. Ele sobe ao Pai para enviar o Espírito e continuar presente na Igreja, conduzindo suas ovelhas à vida eterna. Este dinamismo trinitário — revelado nas palavras de Jesus, refletido por Santo Agostinho, vivido pela Igreja — é o coração da nossa fé pascal: o mistério de um Deus Uno e Trino, que caminha conosco, guia-nos como Pastor, consola-nos como Paráclito, e nos acolhe como Pai eterno.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.