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Pode ser que venha a dar fruto 20250405 124438 0000 1

Justo Juiz

Jesus disse aos escribas e fariseus: “Quem dentre vós não tiver pecado, seja o primeiro a atirar-lhe uma pedra” (Jo 8,7).

Com essas palavras, o Senhor não apenas desmascarou a hipocrisia daqueles homens, mas revelou o íntimo de seus corações: eles não estavam verdadeiramente preocupados com a Lei ou com a justiça, mas sim em armar uma cilada contra Ele. Ao trazerem a mulher adúltera, queriam, na verdade, apedrejar o próprio Cristo.

A armadilha estava lançada: se Jesus poupasse a mulher, pareceria contrário à Lei de Moisés; se ordenasse que a apedrejassem, contrariaria sua própria mensagem de misericórdia. Mas o que os mestres da Lei não compreendiam é que Jesus é a própria Lei em sua plenitude e a misericórdia encarnada. Ele é o Justo Juiz.

“Não penseis que vim abolir a Lei ou os Profetas; não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento” (Mt 5,17).

Ao declarar que somente quem estivesse sem pecado deveria atirar a primeira pedra, Jesus não nega a Lei, mas a ilumina com a verdade do Evangelho. Sua sentença revela que a justiça divina exige pureza também daquele que julga. Como diz São Paulo: “Tu que julgas, és indesculpável, pois julgas os outros e fazes as mesmas coisas” (Rm 2,1).

Não é justo que pecadores condenem outros pecadores. Jesus ecoa aquilo que Ele mesmo ensinaria mais adiante: “Tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o cisco do olho do teu irmão” (Mt 7,5).

Por isso, a fé cristã no juízo de Deus não é só causa de grande temor — “É terrível cair nas mãos do Deus vivo!” (Hb 10,31) — mas também a esperança de que seremos julgados por um Deus infinitamente bom, perfeito e justo. É a Ele, não aos homens, que deveremos prestar contas.

Ele, porém, não veio para condenar o mundo, mas para salvar as pessoas de seus pecados. São João Batista se refere a Ele como: “O Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29).

Em sua conversa com Nicodemos, Ele declara: “Deus amou tanto o mundo que deu o seu Filho único, para que todo o que nele crer não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3,16). Por isso, à mulher pecadora Ele diz: “Nem eu te condeno” (Jo 8,11).

A misericórdia de Deus não é permissividade. Ele não faz acordo com o pecado, embora ame o pecador. E assim, completa: “Vai, e de agora em diante não peques mais” (Jo 8,11).

Santo Tomás de Aquino comenta esse episódio com profundidade:

“Havia duas coisas nesta mulher: a natureza e a culpa. O Senhor podia ter condenado ambas: a natureza, ordenando que fosse apedrejada, e a culpa, não a absolvendo. Podia também ter absolvido ambas, se concedesse à mulher licença para pecar, dizendo: ‘Vai e vive como quiseres, está segura da minha libertação. Não importa o quanto peques, eu também te livrarei das torturas da Geena e do Inferno’. Mas o Senhor, que não ama a culpa e não favorece o pecado, condenou a culpa, não a natureza, dizendo: ‘Não peques mais’, pelo que mostrou quão doce é pela mansidão e quão reto é pela verdade.”

Essa é a pedagogia divina: firme com o pecado, mas compassiva com o pecador. Essa mesma voz ressoa hoje também para nós: “Vai e não peques mais”. É um chamado constante — hoje, amanhã, a todo instante — porque Ele quer estar conosco sempre.

E é nos sacramentos, especialmente na Confissão e na Eucaristia, que essa misericórdia se manifesta de forma mais intensa. Ali, somos libertos da culpa e fortalecidos pela presença viva do Deus que não nos condena, mas nos transforma.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.