5º Domingo do Tempo Comum, Ano C
“Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros.” (Is 6, 5)
De fato, diante de nossa natureza humana, o que podemos nos gloriar? Somos inclinados ao pecado, e esse pecado nos afasta de Deus, como um aborto que separa a criança de sua mãe, como Paulo tão intensamente descreve:
“Apareceu também a mim, como a um abortivo.” (1 Cor 15, 8)
Essas palavras são impactantes, pois nos mostram a fragilidade humana. Como uma criança prestes a ser abortada, que enfrenta o risco de morte, Paulo se vê como alguém nascido fora do tempo, em um estado de grande risco espiritual. Mas, assim como a mãe que quase perde seu filho, Cristo vem ao encontro de ambos, trazendo vida onde havia morte. O império da perseguição, que queria sufocar a fé, sucumbiu diante do milagre de Cristo, que venceu a morte.
A Igreja sofria sob Saulo, que, antes de conhecer a Verdade, perseguiu os cristãos. A mãe igreja morria, e o filho estava à beira da morte espiritual.
Mas Cristo, “o Caminho, a Verdade e a Vida”, interveio, trazendo vida e graça onde havia condenação. Paulo, ao se apresentar como “um aborto”, não faz apenas uma autocrítica, mas testemunha o poder de Deus, que pode trazer vida abundante, mesmo nos momentos de maior fragilidade. Ele, que antes era um instrumento de morte, agora se torna mensageiro da esperança e da vida.
Como Paulo disse:
“Na verdade, eu sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus. É pela graça de Deus que eu sou o que sou. Sua graça para comigo não foi estéril: a prova é que tenho trabalhado mais do que os outros apóstolos — não propriamente eu, mas a graça de Deus comigo.” (1 Cor 15, 9-10)
A vitória de Cristo sobre a morte não é apenas uma promessa para o futuro, mas uma realidade presente em nossas vidas. Quando observamos Cristo, encontramos o exemplo perfeito de resistência à tentação, de como superar o mal e como viver o amor divino. Ele se deu como o Pão da Vida, e nos ensinou o verdadeiro significado do amor.
Como vemos em Isaías:
“Um dos serafins voou para mim, tendo na mão uma brasa, que retirara do altar com uma tenaz, e tocou minha boca, dizendo: ‘Assim que isto tocou teus lábios, desapareceu tua culpa, e teu pecado está perdoado.'” (Is 6, 6-7)
Este ato de purificação remete à descida do Espírito Santo, representada pelas línguas de fogo, e também à ação transformadora da Eucaristia. Quando nos entregamos a Deus e nos abrimos para sua misericórdia, nossos pecados são perdoados, e a graça divina passa a fluir por nossas vidas, produzindo frutos de bondade e santidade.
Ao refletir sobre a experiência de Pedro, vemos que a nossa ação, por mais esforçada que seja, não será frutífera sem a colaboração de Deus. Assim como Pedro disse:
“Mestre, nós trabalhamos a noite inteira e nada pescamos. Mas, em atenção à tua palavra, vou lançar as redes.” (Lc 5, 5)
Sem Deus, nossos esforços estão vazios, mas quando colocamos nossos esforços nas mãos de Deus, a abundância de sua graça os transforma.
E assim, embora sejamos pecadores, Deus nos olha com misericórdia, nos chama e nos convida a lançar as redes mais uma vez. Ele transforma nossas fraquezas em momentos de graça e renovação. Quando nos entregamos a Ele, nossa vida encontra o propósito e a abundância que só Ele pode oferecer.
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