Categorias

476949984 17848026729406822 2545235830900033728 n

6º Domingo do Tempo Comum, Ano C

“Como os cardos no deserto, ele não vê a florada, prefere viver na aridez do ermo, em uma região salobra e desabitada.” (Jr 17, 6)

Os cardos, ou espinhos, são as partes duras e pontiagudas de algumas plantas. Eles podem simbolizar as consequências do pecado, que nos afastam da verdadeira plenitude e nos deixam em um estado de aridez espiritual.

Isso é exposto já no livro de Gênesis, quando a terra, após a queda do homem, passa a produzir espinhos e cardos como parte das consequências do pecado:  

“Não comerás dela, maldita é a terra por tua causa; com dor comerás dela todos os dias de tua vida. Espinhos e cardos também produzirá, e comerás a erva do campo.” (Gn 3, 17-18)

Desde aquele momento, o ser humano se encontra preso às consequências do pecado, preferindo viver na aridez desse mundo, sem jamais alcançar a verdadeira florada da vida, a plenitude da graça e da misericórdia de Deus.

A misericórdia divina, sempre disponível, é ignorada por muitos, que insistem em confiar apenas em sua própria força humana, em suas capacidades limitadas, como se fossem donos de suas vidas. Esse orgulho impede que eles experimentem a reconciliação com Deus e a verdadeira transformação que Ele oferece.

O homem que coloca sua confiança apenas no que é humano, nas suas próprias forças e nas suas próprias qualidades, muitas vezes se torna arrogante. Ele se considera o centro de tudo e começa a desprezar os outros, comparando-os com suas próprias virtudes.

Essa atitude prepotente afasta-o ainda mais da verdadeira humildade, da abertura para a graça divina. Como nos alerta o evangelho, aqueles que se consideram superiores, que menosprezam os pequenos e humildes, terão sua recompensa já nesta vida, mas na eternidade não terão nada para receber.

Ai daqueles que menosprezam os pequeninos.

Ai de vós, porque já tendes vossa consolação! E no momento da verdade, não terão mais nada.

Viver como se a morte fosse o fim de tudo leva a uma vida vazia de significado. O cristão, porém, não se deixa enganar por essa visão materialista e limitada.

Como São Paulo nos ensina, Cristo ressuscitou dos mortos como as primícias daqueles que morreram. Ele é a garantia de que a morte não é o fim, mas um novo começo.  

“Mas, na realidade, Cristo ressuscitou dos mortos como primícias dos que morreram.” (1Cor 15, 20)

Em Cristo, temos a certeza de que a vida não acaba na morte, mas é transformada, e todo aquele que se confia a Deus, com fé e humildade, será eternamente feliz ao lado d’Ele.

A verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no status, mas na confiança plena em Deus. Jesus nos ensina a ser bem-aventurados naqueles momentos em que, por seguir a Cristo, sofremos, mas também nos garante que nossa recompensa será grande no céu. Não há sofrimento que se compare à glória que nos aguarda.  

“Alegrai-vos nesse dia e exultai, pois será grande a vossa recompensa no céu.” (Lc 6, 23)  

E essa alegria não se limita apenas ao céu; ela também nos dá forças para perseverar na terra, porque o Senhor está conosco em todas as circunstâncias.

Na mesma linha, o profeta Jeremias descreve a figura de um homem que coloca sua confiança em Deus: “É como a árvore plantada junto às águas, que estende suas raízes em busca de umidade. Por isso, não teme a chegada do calor; sua folhagem permanece verde, não sofre falta durante a seca e nunca deixa de dar frutos.” (Jr 17, 8)

Essa imagem ilustra aqueles que depositam sua fé em Deus, que é maior do que todas as coisas e é a fonte de todo o sustento e vida. Assim como a árvore cujas raízes buscam a água, aqueles que confiam em Deus buscam a sua força, a sua graça.

Eles não dependem apenas de seus próprios recursos, mas se alimentam da fonte eterna, do rio divino que nunca seca. Independentemente das dificuldades da vida, das tribulações e do calor da adversidade, esses homens e mulheres permanecem firmes, com a esperança renovada e frutificando espiritualmente. O verdadeiro sustento e a verdadeira felicidade vêm de Deus, e essa confiança nos leva a uma vida de abundância, de frutos que glorificam a Ele.

Portanto, a verdadeira sabedoria está em reconhecer que, sem Deus, somos como o cardo no deserto, onde o máximo que produz são espinhos. Mas com Ele, nos tornamos como a árvore plantada junto às águas, sempre verdes, sempre frutíferas, porque nossa vida é alimentada pela graça que vem do Senhor, e essa graça nunca nos faltará.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.