1º Domingo da Quaresma, Ano C
Adão e Eva, seduzidos pela astúcia do tentador, escolheram desobedecer a Deus e introduziram o pecado no mundo (Gn 3,1-7).
A partir desse momento, o pecado se espalhou pela humanidade. Seus descendentes também se afastaram de Deus, e as gerações seguintes multiplicaram suas iniquidades. Mas Deus, em sua infinita misericórdia, não destruiu a humanidade, ainda que tenha purificado a terra do mal no dilúvio:
“O Senhor viu que a maldade do homem era grande sobre a terra e que todos os pensamentos de seu coração estavam continuamente voltados para o mal. Mas Noé encontrou graça aos olhos do Senhor.” (Gênesis 6,5.8)
Foi através de um homem de fé, Abraão, que Deus iniciou Sua catequese perfeita, conduzindo a humanidade ao verdadeiro conhecimento de Seu amor (Gn 12,1-3).
O Senhor transformou corações endurecidos, preparando um povo para si. De geração em geração, os ensinamentos divinos foram transmitidos, e pela fidelidade de Abraão, Isaac e Jacó, o povo experimentou a misericórdia divina. Os profetas anunciaram a verdade e prepararam o caminho para aquele que seria o ápice da revelação: Cristo Jesus, o Filho de Deus.
No Evangelho do primeiro domingo da Quaresma, Jesus prossegue com esta catequese e nos ensina a vencer as tentações do maligno:
“Jesus, cheio do Espírito Santo, voltou do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto, onde, durante quarenta dias, foi tentado pelo diabo.” (Lucas 4,1-2)
No deserto, Ele enfrentou três provações que simbolizam todas as tentações que podem nos afligir:
A tentação do pão:
O demônio sugeriu que Jesus transformasse pedras em pão para saciar a fome:
“Se és Filho de Deus, manda que esta pedra se transforme em pão.” (Lucas 4,3)
Essa tentação representa os desejos desordenados da carne e a busca pelos prazeres terrenos. Jesus, porém, nos ensina que há um alimento maior do que o material:
“Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’.” (Mateus 4,4; Deuteronômio 8,3)
São João Crisóstomo reflete:
“O jejum é o alimento da alma. Como o alimento corporal fortalece o corpo, o jejum fortalece a alma, torna-a mais dócil ao espírito, mais apta para penetrar as coisas do céu.”
A tentação do poder:
Satanás ofereceu a Jesus autoridade sobre todos os reinos do mundo, caso Ele o adorasse:
“Dar-te-ei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram dados e eu os dou a quem quero. Se te prostrares diante de mim, tudo será teu.” (Lucas 4,6-7)
Essa é a tentação do orgulho, do desejo de poder e da idolatria, colocando o homem no lugar de Deus. Mas Jesus responde:
“Está escrito: ‘Adorarás ao Senhor, teu Deus, e só a Ele prestarás culto’.” (Lucas 4,8; Deuteronômio 6,13)
Santo Agostinho completa a reflexão:
“O orgulho transformou anjos em demônios, a humildade faz de homens anjos.”
A tentação de testar a Deus:
O demônio ainda tentou Jesus a lançar-se do pináculo do Templo, desafiando Deus a salvá-Lo:
“Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Ele dará ordens a seus anjos a teu respeito, para que te guardem’.” (Lucas 4,9-10)
Essa tentação representa a prepotência humana de querer que Deus obedeça à sua vontade, testando-o e tentando inverter os papéis de Criador e criatura, utilizando se de Deus como uma ferramenta. Mas Jesus ensina a verdadeira submissão à vontade divina:
“Foi dito: ‘Não tentarás o Senhor, teu Deus’.” (Lucas 4,12; Deuteronômio 6,16)
São Padre Pio complementa:
“Quanto mais te deixares guiar por Deus, mais Ele te conduzirá a porto seguro.”
Todas as tentações que enfrentamos são variações dessas três categorias: os desejos desordenados da carne, a busca pelo poder e a soberba de querer submeter Deus à nossa vontade. Mas Cristo venceu todas, mostrando-nos o caminho da vitória.
“Depois de tê-lo tentado de todos os modos, o diabo afastou-se dele até o tempo oportuno.” (Lucas 4,13)
Nesta catequese perfeita, Deus implantou em nós a marca da redenção e nos lavou com Sua graça para que possamos resistir ao mal e caminhar nos Seus caminhos.
“Se com tua boca confessares que Jesus é o Senhor, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo.” (Romanos 10,9)
Como diz Santa Teresa de Ávila:
“Nada te perturbe, nada te espante. Tudo passa. Deus não muda. A paciência tudo alcança. Quem a Deus tem, nada lhe falta. Só Deus basta.”
Assim, fortalecidos pela Palavra, pelo jejum e pela oração, podemos vencer as tentações, pois em Cristo já temos a vitória. Que nesta Quaresma possamos seguir o exemplo de Jesus e trilhar o caminho da santidade.
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