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no amor nao ha temor

Mansidão e humildade: a verdadeira grandeza do cristão

Nas leituras do 22º Domingo do Tempo Comum, somos convidados a refletir sobre a humildade, a mansidão e o amor que vence o medo.

O povo de Israel, diante das manifestações divinas no Sinai, encheu-se de temor: “Fala tu conosco, e te ouviremos; mas não nos fale Deus, para que não morramos” (Ex 20,19). O medo os levava à obediência, mas não os conduzia ainda ao amor.

A Sagrada Escritura nos recorda que “no amor não há temor, antes, o perfeito amor lança fora o temor, porque o medo supõe castigo” (1Jo 4,18). O cristão, portanto, não é chamado a servir por medo, mas por amor. Como ensina Santo Agostinho: “Ama e faz o que quiseres”, pois quem ama verdadeiramente não busca a si mesmo, mas ao bem do outro e à glória de Deus.

A humildade é fruto desse amor. Ser humilde é reconhecer a própria pequenez diante de Deus e, ao mesmo tempo, colocar-se a serviço do próximo. O Catecismo da Igreja Católica ensina: “A humildade é o fundamento da oração. Quando o homem se coloca diante de Deus como ele é, a humildade é condição indispensável para receber gratuitamente o dom da oração” (CIC 2559).

O contrário da humildade é o orgulho, raiz de muitos pecados. São Gregório Magno afirma que o orgulho é “a rainha de todos os vícios”, pois faz o homem voltar-se para si mesmo, colocando-se no centro e afastando Deus do trono de sua vida. Enquanto a humildade esvazia o coração para que Deus o preencha, o orgulho o infla de si mesmo, tornando-o incapaz de amar. Por isso, “para o mal do orgulhoso não existe remédio, pois uma planta de pecado está enraizada nele” (cf. Eclo 3,28).

A Palavra de Deus ainda nos orienta: “Realiza teus trabalhos com mansidão, e serás amado mais do que um homem generoso” (Eclo 3,17).

A generosidade material é boa, mas a mansidão, a presença atenta e o coração que escuta são dons ainda maiores. A mansidão desarma, aproxima, cura feridas e alivia pesos ocultos no coração do outro. O próprio Cristo nos convida: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração” (Mt 11,29).

A fé, mesmo daqueles que não viram nem tocaram, como nos lembra Jesus a Tomé (cf. Jo 20,29), gera amor, e o amor amadurece em humildade. Quem crê de verdade, aprende a servir sem buscar reconhecimento, encontra alegria em fazer o bem até mesmo ao desconhecido, e experimenta que “há mais felicidade em dar do que em receber” (At 20,35).

Assim, quando ajudamos o irmão, quando arrancamos um sorriso de quem sofre, quando nos aproximamos do pobre, do doente e do esquecido, somos configurados a Cristo e descobrimos o segredo da verdadeira felicidade. Pois, como ensina São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados sobre o amor”.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.