22º Domingo do Tempo Comum.
“Filho, realiza teus trabalhos com mansidão; Na medida em que fores grande, deverás praticar a humildade, e assim encontrarás graça diante do Senhor.” (Eclo 3,17-18)
As leituras deste domingo nos convidam a refletir sobre duas formas de servir a Deus: o serviço movido pelo medo e o serviço nascido da humildade.
No Antigo Testamento, o povo de Israel se assustava diante das manifestações divinas: trovões, fogo e nuvens densas no Sinai. Por temor, clamaram: “Fala tu conosco, e te ouviremos; mas não nos fale Deus, para que não morramos” (Ex 20,19). Era o medo que os fazia obedecer.
Moisés, porém, era o único que se aproximava. Ele falava com Deus face a face, como um amigo fala com outro, para depois transmitir sua Palavra ao povo. E tamanha era a proximidade, que seu rosto resplandecia em brilho como a lua cheia no céu (cf. Ex 34,29). O povo via esse esplendor e se prostrava, servindo porque presenciava a força de Deus. Foi o medo que os fez obedecer.
Mas para nós, a revelação é diferente: “Não vos aproximastes de um fogo palpável e ardente… Ao contrário, aproximastes-vos do monte Sião, da cidade do Deus vivo” (Hb 12,18.22). Não temos diante dos olhos sinais visíveis como eles tiveram, e mesmo assim somos chamados a crer:
“Felizes aqueles que não viram e creram” (Jo 20,29).
Nosso serviço não nasce da obrigação, mas da liberdade como filhos. Nossa entrega não nasce do terror diante da majestade divina, mas do amor humilde que reconhece sua misericórdia.
O Evangelho mostra isso claramente: “Quando deres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos, os cegos. Então serás feliz, porque eles não te podem retribuir. Tu receberás a recompensa na ressurreição dos justos” (Lc 14,13-14). O serviço humilde não busca reconhecimento humano, mas se oferece gratuitamente.
Aqui está a marca do discípulo: não servir por medo do castigo, mas por amor gratuito. Santo Agostinho dizia: “Ama, e faze o que quiseres”. Pois quem ama verdadeiramente, serve com liberdade, e não como escravo.
Portanto, servir por medo é viver como escravo diante de um senhor severo; servir por humildade é viver como filho diante de um Pai amoroso. Moisés refletia a glória de Deus em seu rosto porque O viu de perto. Nós refletimos sua luz quando deixamos que a humildade molde nossos gestos de amor.
Que este domingo nos ensine a servir não por temor, mas por gratidão. Que a mansidão e a humildade nos tornem verdadeiramente livres, até a recompensa prometida na ressurreição dos justos.
Deixe um comentário