A liturgia deste 15º Domingo do Tempo Comum nos apresenta uma verdade essencial da fé: a Palavra de Deus está ao nosso alcance. Ela não é um mistério inacessível, nem um ideal distante, reservado apenas aos santos ou aos eruditos. Pelo contrário, como nos recorda com força a primeira leitura (Dt 30,10-14), essa Palavra está “bem ao teu alcance, está em tua boca e em teu coração, para que a possas cumprir” (Dt 30,14).
Moisés fala ao povo de Israel no final de sua caminhada pelo deserto, pouco antes de entrar na Terra Prometida. Ele lhes mostra que não há desculpas para ignorar a vontade de Deus. O Senhor já revelou Sua Palavra, já indicou o caminho da vida. E esse caminho é possível, é concreto, é próximo. Cabe ao povo guardar essa Palavra no coração e vivê-la no dia a dia.
Essa verdade ecoa de maneira ainda mais profunda na segunda leitura (Cl 1,15-20). São Paulo nos apresenta Cristo como aquele em quem habita “toda a plenitude de Deus” (Cl 1,19) e por meio de quem fomos reconciliados. Ou seja, a Palavra de Deus que estava “no céu” ou “do outro lado do mar”, como dizia Moisés, agora se fez carne em Jesus. Ele é a Palavra encarnada, visível, acessível — o rosto misericordioso do Pai. E é por Ele, com Ele e n’Ele que nós podemos cumprir o mandamento do amor.
Se a Palavra está ao nosso alcance, é porque o amor também está. E é justamente isso que o Evangelho de Lucas (10,25-37) nos ensina com a parábola do bom samaritano. Quando o doutor da Lei pergunta a Jesus o que é preciso para herdar a vida eterna, Jesus o conduz à própria Palavra já revelada: “Que está escrito na Lei? Como lês?” (Lc 10,26). A resposta vem da Escritura: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração… e ao teu próximo como a ti mesmo” (Dt 6,5; Lv 19,18).
Jesus confirma que o mandamento já é conhecido, já está ao alcance. Mas é necessário vivê-lo. É por isso que o Mestre conta a parábola. Ele quer mostrar que o amor ao próximo não é teórico. É concreto. É ver, aproximar-se, compadecer-se, cuidar. O samaritano viu o ferido e agiu com misericórdia. E Jesus conclui: “Vai e faze tu a mesma coisa!” (Lc 10,37).
Não é algo impossível. Não está fora do nosso alcance. Está no nosso caminho, na pessoa ferida que encontramos, nos rostos que nos desafiam, nas situações que pedem compaixão. Está na nossa boca, quando falamos palavras de paz. Está no nosso coração, quando decidimos amar.
Como nos diz o salmo: “Ó Senhor, vossas palavras são espírito e vida!” (Sl 18\[19],8). Se as guardarmos no coração e as colocarmos em prática, então encontraremos vida verdadeira.
Hoje, Deus nos diz novamente:
“Esta Palavra está bem ao teu alcance.”
Ela está diante de ti. Vive-a. Ama.
E viverás.
Deixe um comentário