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Cadeia e sombras antigas

“Para mim, viver é Cristo, e morrer é lucro.” (Fl 1,21)

Em tempos de dura perseguição, a Igreja primitiva era duramente provada. Herodes, movido por interesses políticos e pelo desejo de agradar ao povo, lançou mão da violência contra os seguidores de Cristo. Tiago, irmão de João, foi preso e martirizado pela espada. A Igreja chorava seu apóstolo. Mas o sangue dos mártires sempre foi semente de novos cristãos.

O povo ainda vivia o luto por Tiago quando Herodes mandou prender Pedro. O chefe dos apóstolos, nosso primeiro Papa, agora estava acorrentado, sob a vigilância de dezesseis soldados, à espera de um destino semelhante ao de Tiago. A Páscoa se aproximava, e Herodes adiava o julgamento para depois da festa, visto a tradição do povo judeu. Mas a comunidade não cruzou os braços: unida, chorava, orava e jejuava com fervor.

Pedro, mesmo preso e acorrentado, dormia em paz. Pois aquele que confia no Senhor repousa tranquilo, mesmo no vale da sombra da morte (cf. Sl 23). Ele sabia em quem havia depositado sua esperança.

Ser cristão não é buscar segurança, mas confiar totalmente na vontade de Deus — viver para Cristo é doar-se, e morrer por Ele é alcançar a vitória.

Santa Teresinha dizia: “Não morro, entro na vida.”

Essa é a lógica do Evangelho: viver na entrega e morrer em esperança. Porque “a nossa morada definitiva não está aqui” (cf. Hb 13,14), e tudo o que sofremos agora é passageiro diante da glória que nos espera.

No silêncio da noite, Deus interveio. Um anjo do Senhor apareceu, e as correntes caíram dos pulsos de Pedro. A cela se encheu de luz. O anjo ordenou:

“Levanta-te depressa!”

“Coloca o cinto e calça tuas sandálias.”

“Põe tua capa e vem comigo.” (cf. At 12,7-8)

Essas palavras não são apenas para Pedro, mas para todos nós.

Levanta-te! Deixa o luto e a paralisia do medo.

Calça tuas sandálias! Prepara-te para o serviço, pois ainda há missão a cumprir.

Põe tua capa! Reveste-te da graça de Deus.

Vem comigo! Caminha com confiança, pois o Senhor vai à frente.

As Escrituras narram que, ao passar pela primeira e pela segunda guarda, chegaram ao portão de ferro que se abriu sozinho diante deles.

As barreiras do mundo caíram, uma a uma.

Nada pode impedir o plano de Deus. Nem prisões, nem correntes, nem guardas, nem portões. Como disse São João Paulo II: “Não tenhais medo! Abri, antes, escancarai as portas a Cristo!”

Quando confiamos totalmente em Deus, sabemos que não estamos sós nesta batalha. Ele caminha conosco. A cada nova provação, experimentamos sua fidelidade. E mesmo quando não vemos saída, Ele age. Pois “a esperança não decepciona” (Rm 5,5).

A presença de Cristo em nós é o que nos diferencia do mundo.

“Te ter é a maior diferença em mim.”

Por isso, vivamos como quem já encontrou a Verdade, e morramos com a esperança dos santos, certos de que nosso prêmio está no Céu.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.