Na profecia de Zacarias (Zc 12,10-11; 13,1), Deus anuncia um tempo em que derramará “um espírito de compaixão e de súplica sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém”. E completa: “Olharão para aquele que traspassaram, e o chorarão como se chora um filho único; e chorarão por ele como se chora amargamente por um primogênito” (Zc 12,10).
Zacarias, para ilustrar a intensidade desse pranto, recorre a uma imagem conhecida do povo: “O grande pranto de Adadremon na planície de Meguido” (Zc 12,11). Este pranto faz referência a um rito pagão associado ao deus Adadremon (ou Hadad-Rimon identificado com Baal ou Tamuz), divindade da vegetação, que “morria” simbolicamente ao final das colheitas e “renascia” com a chegada das chuvas. Em Meguido, uma região fértil, este culto tomava grande importância. O povo chorava, lamentava e fazia ritos fúnebres, lamentando a morte cíclica do seu falso deus.
Este lamento é profundamente simbólico. Reflete o desespero humano quando deposita sua esperança naquilo que não é Deus. São os frutos da idolatria: promessas vazias e um ciclo sem fim de morte e frustração. Como disse o salmista:
“Os ídolos das nações são prata e ouro, obra das mãos dos homens. Têm boca e não falam, olhos e não veem…” (Sl 135,15-16)
Quando Elias enfrenta os profetas de Baal no Monte Carmelo (1Rs 18), vemos algo semelhante. Os seguidores de Baal “clamavam em alta voz e se retalhavam com facas e lancetas, segundo o seu costume, até correr sangue sobre eles” (1Rs 18,28), mas não houve voz, nem resposta, nem atenção (1Rs 18,29). É o lamento inútil diante de deuses que não existem.
São Gregório Magno comenta: “Quando o coração se afasta do Deus verdadeiro, procura falsos consolos, e estes, não podendo saciar, deixam a alma ainda mais vazia e ferida.” (Homilia sobre Ezequiel)
A profecia de Zacarias, porém, anuncia um pranto muito diferente: não mais o pranto estéril diante de deuses mortos, mas o pranto da conversão, do reconhecimento do pecado, do olhar voltado para o Deus verdadeiro, aquele que foi traspassado.
Este pranto é descrito no Novo Testamento no episódio da crucificação de Cristo, quando o Evangelho de João cita expressamente Zacarias:
“Olharão para aquele que traspassaram” (Jo 19,37).
É o pranto de quem reconhece no Cristo crucificado o peso dos próprios pecados e a imensidão do amor de Deus. Santo Ambrósio diz: “É próprio do coração contrito chorar não de desespero, mas de amor, porque compreende o quanto custou sua salvação.”
E São Pedro é o exemplo vivo desse pranto santo. Após negar Jesus, “ele saiu e chorou amargamente” (Mt 26,75). Mas esse choro não leva à morte, como o pranto dos pagãos, mas à vida, à reconciliação e ao encontro com a misericórdia.
Curiosamente, Meguido (ou Armagedon, na transliteração do Apocalipse) torna-se símbolo do grande combate espiritual entre o bem e o mal (Ap 16,16). Ali onde antes se lamentava por falsos deuses, agora se dará o confronto final entre o Reino de Deus e as forças das trevas.
Isso mostra que cada coração humano é um campo de batalha: ou se entrega ao pranto estéril da idolatria — dos bens, do ego, do poder —, ou se deixa tomar pelo pranto fecundo da conversão, que leva à salvação.
Portanto, neste 12 domingo do tempo comum a Palavra nos questiona: de que lado está nosso lamento? Lamentamos como os pagãos, pelos deuses mortos do mundo, ou choramos aos pés da cruz, olhando para aquele que traspassamos?
Como diz São João Crisóstomo: “Nada é mais poderoso que uma lágrima derramada por amor a Deus; ela apaga os pecados, abre as portas do Céu e une a alma novamente ao seu Criador.”
Que o Espírito de súplica e de compaixão prometido por Zacarias nos alcance, para que o nosso pranto não seja de desespero, mas de esperança, de amor e de retorno ao Deus vivo e verdadeiro.
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