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Contemplação e Missão: O Caminho da Ascensão

Chegamos à Solenidade da Ascensão do Senhor. Percorremos, ao longo do tempo pascal, um itinerário espiritual que está nos conduzindo por um caminho. Cristo ressuscitado apareceu diversas vezes aos seus discípulos, como um oleiro que, após modelar e moldar cuidadosamente o barro, realiza os últimos retoques de sua obra-prima. Durante os três anos de missão pública, Ele nos foi formando, ensinando, corrigindo, e agora, neste dia solene, finaliza a obra com delicados detalhes, advertindo-nos: “Não vos afasteis de Jerusalém, mas esperai a realização da promessa do Pai” (At 1,4).

Cristo nos recorda que, assim como o barro precisa do fogo para ser fortalecido e se tornar resistente, também nós precisamos do fogo do Espírito Santo para sermos missionários autênticos.

Neste contexto, recordamos dois sacramentos fundamentais: o Batismo e a Crisma.

No Batismo, recebemos a porta de entrada na fé, somos incorporados a Cristo e à sua Igreja. Como afirma o apóstolo: “Todos vós que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo” (Gl 3,27). Quer sejamos batizados ainda crianças ou já adultos, tornamo-nos membros do Corpo de Cristo, mesmo sem conhecê-Lo plenamente. A fé, como um dom inicial, nos introduz a uma nova vivência, distinta daquela que o mundo oferece.

Mas não basta ser batizado; é necessário conhecer verdadeiramente Aquele que somos chamados a anunciar. Por isso o Senhor insiste: “Permanecei na cidade, até que sejais revestidos da força do alto” (Lc 24,49).

Cristo nos aconselha a permanecer na segurança do seio materno da Igreja, onde somos alimentados, instruídos e preparados até que estejamos prontos para dar passos mais profundos na vida espiritual.

Este revestimento da força do alto se dá, sobretudo, na Crisma. O sacramento da Confirmação é o selo do Espírito Santo, o amadurecimento da fé, é assumir com consciência as responsabilidades da vida cristã. Como nos recorda São João Paulo II: “O Espírito Santo transforma os batizados em testemunhas corajosas de Cristo”.

Revestidos da força do Espírito, podemos realizar grandes coisas, pois, como disse Jesus: “Recebereis o poder do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas até os confins da terra” (At 1,8). O momento da crisma é esse revestimento da força do alto, é tornar-se adulto na fé, é saber tomar suas próprias decisões. É aceitar os grandes Poderes reconhecendo as grandes responsabilidades.

Cristo ascendeu ao céu, deixando-nos o seu ensinamento e a missão. Os apóstolos permaneceram olhando para o alto, extasiados diante da grandeza de Deus, como quem contempla um mistério que ultrapassa todo entendimento.

É bom permanecer na segurança da comunidade, na adoração e contemplação, como Pedro disse no Tabor: “Senhor, é bom estarmos aqui!” (Mt 17,4). Mas o Senhor nos recorda que a fé não se constrói apenas com palavras, mas também com obras: “Assim também a fé: se não tiver obras, está completamente morta” (Tg 2,17).

Por isso, os anjos interpelaram os apóstolos: “Homens da Galileia, por que ficais aqui, parados, olhando para o céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado ao céu, virá do mesmo modo como o vistes partir” (At 1,11).

Ele voltará, e quando o fizer, procurará os frutos das nossas obras. O que faremos com os dons e talentos que Ele nos confiou através do Espírito Santo? Enterrá-los-emos com medo, como o servo infiel? Ou os colocaremos a serviço do Reino?

Fortalecei-vos com a Palavra e revesti-vos com o Espírito! Quando estiverdes prontos, ide e anunciai: “Ide pelo mundo inteiro e pregai o Evangelho a toda criatura” (Mc 16,15). Não estareis sozinhos, pois o Espírito Santo vos conduzirá além, sustentando-vos com a força do Altíssimo.

Que possamos fazer nossa a súplica do Apóstolo:

“O Deus de nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai a quem pertence a glória, vos dê um espírito de sabedoria que vo-lo revele e faça verdadeiramente conhecer. Que ele abra o vosso coração à sua luz, para que saibais qual a esperança que o seu chamamento vos dá” (Ef 1,17-18).

E, assim, aproximemo-nos com confiança:

“Aproximemo-nos, portanto, de coração sincero e cheio de fé, com o coração purificado de toda má consciência e o corpo lavado com água pura. Sem desânimo, continuemos a afirmar a nossa esperança, porque é fiel quem fez a promessa” (Hb 10,22-23).

Que nesta Solenidade da Ascensão, deixemo-nos inflamar pela esperança e coragem missionária, certos de que Aquele que subiu ao céu nos enviará o Espírito para que sejamos, no mundo, sinais vivos da sua presença e amor.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.