Na liturgia dos domingos passados, fomos conduzidos por uma profunda meditação sobre o mistério pascal.
No quarto domingo da Páscoa, contemplamos Cristo como o Bom Pastor, Aquele que conhece cada uma de suas ovelhas pelo nome e dá a vida por elas.
Já no quinto domingo, fomos confrontados com a realidade da “grande tribulação” — a certeza de que o seguimento de Cristo não nos isenta do sofrimento, mas que esse sofrimento é transformado e redentor quando vivido em comunhão com Ele.
Surge, então, uma pergunta inevitável: como o Bom Pastor, sendo verdadeiramente bom, pode permitir que suas ovelhas sofram?
A resposta começa a se delinear neste sexto domingo da Páscoa. A liturgia nos ajuda a compreender que Deus, como Pai amoroso, não nos impõe fardos além daquilo que é indispensável.
Nas palavras dos Apóstolos, “não se deve impor nenhum fardo além das coisas indispensáveis” (At 15,28). O sofrimento, quando inevitável, é permitido como um meio de crescimento e purificação. Deus não prova além das nossas forças; Ele fortalece, acompanha e conduz.
Jesus, em seu discurso de despedida, nos oferece um presente inestimável: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou. Não a dou como o mundo a dá” (Jo 14,27). Esta paz não é ausência de conflitos, mas a presença de Cristo ressuscitado que acalma os corações mesmo em meio às tempestades. É a paz dos santos, que atravessam as tribulações com o olhar fixo no céu.
São Francisco de Assis, em sua célebre lição sobre a “Perfeita Alegria”, nos ensina que a verdadeira paz e alegria não estão nas consolações humanas, mas na aceitação amorosa da cruz. Quando, rejeitado, ofendido e humilhado, ainda consegue louvar a Deus com um coração sereno — aí está a perfeita alegria. Essa é a paz de Cristo: profunda, firme, universal.
No Livro do Apocalipse de São João, na segunda leitura, nos apresenta a Jerusalém celeste, construída sobre doze fundamentos — os doze apóstolos — e com doze portas — as doze tribos de Israel. Este número simboliza a universalidade do chamado à salvação.
O Bom Pastor quer reunir todos em um só rebanho. A paz de Cristo, portanto, é oferecida a todos, sem distinção, porque Ele é o pastor de toda a humanidade.
Como um pai e uma mãe que sabem o que é melhor para o filho, mesmo quando isso contraria os seus desejos imediatos, assim é Deus conosco. Ele nos ama a tal ponto que nos permite passar pelo necessário para nossa salvação.
Portanto, não se perturbe nem se intimide o vosso coração. Permaneçamos firmes na fé, acolhendo a paz de Cristo e unindo nossas cruzes à d’Ele. Assim, mesmo nas tribulações, experimentaremos a perfeita alegria.
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