Desde os tempos do Antigo Testamento, o Senhor já havia ordenado: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18). Este mandamento colocava o amor ao próximo como reflexo do amor que temos por nós mesmos. O amor era proporcional: só se podia amar verdadeiramente o outro na medida em que se amava a si próprio.
Naquela época, embora o mandamento fosse claro, a sociedade era marcada por um forte egoísmo, por um amor próprio excessivo, muitas vezes desordenado. Havia um culto à própria imagem e interesses, dificultando a verdadeira vivência da caridade.
Contudo, hoje, vemos um movimento inverso. Não vivemos mais o excesso de amor próprio, mas uma preocupante carência dele. Muitos já não se enxergam com dignidade, não reconhecem seu valor, não se amam. Em vez de autoestima, vemos uma crescente submissão ao desejo de aceitação, como se a vida perdesse seu sentido na ausência de um olhar externo que nos valide. Como amar ao próximo se já não amamos a nós mesmos? Como servir ao outro se perdemos a esperança e o sentido da própria vida?
A resposta vem com a plenitude da Revelação no Novo Testamento. Cristo não apenas confirma, mas eleva o mandamento do amor. Ele diz: “Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei” (Jo 13,34). Aqui, o amor já não tem como medida o amor próprio, mas o amor de Cristo — um amor total, gratuito, incondicional. Como ensinou Santa Teresa de Calcutá: “Não é o quanto fazemos, mas quanto amor colocamos naquilo que fazemos.”
Neste novo horizonte, a vida adquire sentido. Jesus deu um novo ânimo à humanidade, um novo modo de amar. O fim último já não é a morte, mas a vida eterna: “Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Como disse Santo Agostinho: “Ama e faze o que quiseres.” Pois quem ama verdadeiramente como Cristo amou, transforma o mundo à sua volta.
Assim, o amor cristão não é medida de comparação, mas de transbordamento. E onde o amor de Cristo nos alcança, tudo se ilumina. A verdadeira revolução começa no coração que se reconhece amado por Deus e, por isso, é capaz de amar sem medidas.
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