Estamos na segunda semana da Páscoa, celebrando o Domingo da Misericórdia. A liturgia deste dia nos convida a contemplar com os olhos da fé o que a Misericórdia de Deus é capaz de realizar na alma humana.
No Evangelho, vemos os discípulos trancados, tomados de medo, mesmo após tantas palavras e sinais. Jesus havia anunciado diversas vezes: “O Filho do Homem deve sofrer muito, ser rejeitado… ser morto e, ao terceiro dia, ressuscitar” (Lc 9, 22). Pedro e João contemplaram a glória na transfiguração no monte Tabor. As mulheres ouviram os anjos proclamarem: “Por que buscais entre os mortos aquele que vive?” (Lc 24, 5). E, ainda assim, o coração permanece fechado.
Vem-nos a memória as palavras de Jesus:
“Como sois sem inteligência e lentos para crer em tudo o que os profetas falaram!” (Lc 24, 25)
Cristo ressuscitado encontra sua igreja incrédula, confusa e com medo. Ele aparece frente aos apóstolos e os devolve a Paz: “A paz esteja convosco” (Jo 20, 19).
E os renova seus propósitos de vida: “Como o Pai me enviou, também eu vos envio” (Jo 20, 21). A Misericórdia os alcança, os perdoa e os envia novamente como apóstolos da Ressurreição.
Tomé, tomando a voz da humanidade, não acreditou no homem. Apenas palavras. Primeiro as mulheres falaram, agora os outros apóstolos também estão dizendo que o Senhor ressuscitou. Mas para Tomé, são pessoas falando para pessoas. E declarou:
“Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos… não acreditarei” (Jo 20, 25).
Mais do que “ver para crer”, ele desejava tocar, experimentar, ser alcançado pela Graça. E foi. E ao tocar, exclamou com fé renovada: “Meu Senhor e meu Deus!” (Jo 20, 28).
Jesus, então, nos dá uma das mais belas bem-aventuranças: “Bem-aventurados os que creram sem terem visto” (Jo 20, 29).
São Tomás de Aquino nos lembra: “Para aquele que tem fé, nenhuma explicação é necessária; para aquele sem fé, nenhuma explicação é suficiente.” Assim também é com a Misericórdia: ela não se explica, se experimenta.
A Misericórdia não apenas consola; ela transforma. Pedro, a pedra firme, estava alicerçado sobre a pedra angular, que é Cristo. A graça de Deus sobre ele era tamanha que os milagres que faziam em nome de Cristo eram aos montes. O simples toque na sombra dele já era o suficiente para os prodígios. Já não era Pedro, mas Cristo que vivia nele (Gl 2, 20).
Santa Faustina, apóstola da Misericórdia, escreveu em seu diário:
“A maior miséria não impede a união com Deus; ao contrário, quanto maior a miséria, tanto mais direito temos à Sua Misericórdia.”
E quanto a nós? Iremos permitir que Cristo nos toque também? Estamos dispostos a sermos renovados nesta Páscoa, a renascer com Ele?
“Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura. As coisas antigas passaram; eis que tudo se fez novo” (2Cor 5,17).
A Mãe Igreja nos oferece a Quaresma como tempo de penitência, mas a Páscoa é tempo de perseverança na transformação. Não jejuamos por quarenta dias para voltarmos aos mesmos excessos. A renúncia precisa florescer em virtude.
Como dizia Santo Agostinho: “Aquele que te criou sem ti, não te salvará sem ti.”
Cristo ressuscitado deseja nos transformar, mas espera nossa resposta.
Que o toque da Misericórdia nos renove e que o eco da Palavra ressoe em nossos corações como um chamado à fé viva, confiante e perseverante.
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