Eis que Ele vem!
A Páscoa, que significa “a passagem do Senhor”, é um marco da ação poderosa de Deus em favor do seu povo.
O Egito teve medo das bênçãos do Senhor que estavam sobre os israelitas, pois cresciam em número e força. O faraó, temendo perder o controle, declarou:
“Eis que o povo dos filhos de Israel é mais numeroso e mais forte do que nós. Vinde, usemos de astúcia para com eles, para que não pelejem contra nós e se retirem da terra.” (Êxodo 1, 9-10)
Dessa forma, o povo de Deus foi oprimido e escravizado. Mas o Senhor não os abandonou: por meio de Moisés, Ele interveio com mão forte, enfrentando os caprichos do faraó e realizando prodígios que mostravam seu poder soberano.
A resistência do faraó culminou em uma sentença divina: Deus enviaria um anjo para ceifar todos os primogênitos do Egito. Mas para proteger os seus escolhidos, Deus deu uma ordem: que marcassem as portas com o sangue de um cordeiro. Esse sinal seria suficiente para que o anjo reconhecesse os filhos de Deus e passasse por eles, sem os tocar.
“O sangue vos servirá de sinal nas casas em que estiverdes: ao vê-lo, passarei adiante, e não haverá entre vós flagelo exterminador, quando eu ferir a terra do Egito.” (Êxodo 12, 13)
Dai se vem o nome Páscoa, a passagem de Deus com mão poderosa, sobrepondo todo obstáculo e oponente. Essa libertação era figura do que viria em plenitude com Jesus Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus. Como escreve São Paulo: “Cristo, nossa Páscoa, foi imolado.” (1Cor 5, 7)
Jesus Cristo realiza o sacrifício derradeiro. Seu sangue, vertido na cruz, nos purifica definitivamente de todo pecado. Ele é o verdadeiro Cordeiro, sem mancha, que se entrega por amor.
Na Última Ceia, o Senhor antecipa o sacrifício da cruz e institui a Eucaristia: “Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Este cálice é a nova aliança no meu sangue, que é derramado por vós.” (Lucas 22, 19-20)
E junto a esse dom, Jesus nos dá um exemplo de serviço e humildade: levanta-se da mesa, tira o manto, cinge-se com uma toalha e lava os pés dos discípulos (João 13, 4-5). Pedro, espantado, exclama: “Senhor, tu me lavas os pés?” Mas Jesus lhe responde: “Se eu não te lavar, não terás parte comigo.” (João 13, 8)
Ele não falava apenas de um gesto simbólico. Estava proclamando: Se não fordes lavados por meu sangue, não poderão habitar a minha casa. Estava revelando que só por meio de sua misericórdia, por seu sangue derramado, podemos ter comunhão com Ele. Nenhuma atitude humana, por mais nobre que seja, pode nos salvar sem essa entrega redentora de Cristo.
Como se diz no dogma: O homem caído não pode redimir-se a si próprio. Somente um ato livre por parte do Amor Divino poderia restaurar a ordem sobrenatural, destruída pelo pecado.
A cada vez que nos aproximamos da mesa do Senhor, é o próprio Cristo que nos lava, que nos renova, que nos une ao seu sacrifício e nos fortalece com seu Corpo e Sangue.
Que nunca nos esqueçamos:
“Todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que Ele venha.” (1Cor 11, 26)
Eis que Ele vem!
“Ó Deus, que nos reunistes para celebrar a santa Ceia, na qual o vosso Filho unigênito, prestes a entregar-se à morte, confiou à Igreja o sacrifício novo e eterno, como banquete do seu amor, fazei que, da participação tão sublime, tiremos a plenitude da caridade e da vida. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.” (Missal Romano – Quinta-feira Santa, Missa Vespertina da Ceia do Senhor, Ano C)
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