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Serei Eu

Serei eu? A confusão na Santa Ceia

“Por vossa causa é que sofri tantos insultos” (Sl 68[69], 8).

Cristo, por amor à nossa salvação, suportou a humilhação: recebeu cusparadas, xingamentos, foi despido diante da multidão. Ele sofreu por mim, por você. Não há maior prova de amor do que essa. Como disse São João Crisóstomo: “Quis ser desprezado para nos tornar preciosos”.

“Eu me tornei como um estranho a meus irmãos” (Sl 68[69], 9).

Os discípulos, cegos pelo medo e pavor, deixaram de enxergar ao Cristo e fugiram. Aqueles que haviam caminhado ao lado do Senhor agora o negavam e se escondiam. E no entanto, Ele não os abandonou.

“Pois meu zelo e meu amor por vossa casa me devoram como fogo abrasador; e os insultos de infiéis que vos ultrajam recaíram todos eles sobre mim” (Sl 68[69], 10).

Amou-nos tanto, que carregou sobre si os nossos pecados. Amou-nos com um amor abrasador, que tudo consumiu: corpo, alma, carne e sangue. Ele assumiu tudo. Inclusive nossas dores.

“Esperei por alguém que tivesse compaixão; procurei quem me aliviasse e não achei!” (Sl 68[69], 20).

Jesus, humano como nós, caiu sob o peso da cruz e ninguém o socorreu, até que forçaram um homem do povo, Simão de Cirene, a ajudá-lo. Até ali, Ele estava só. Mas o amor o fortificava e dava animo para se reerguer novamente.

“Deram-me fel como se fosse alimento, em minha sede ofereceram-me vinagre” (Sl 68[69], 21).

Para se cumprirem as Escrituras, Jesus disse: “Tenho sede.”. E completaram-lhe sofrimento a todos os seus sentidos: pois seu tato foi açoitado; sua visão sofreu ao ver os seus lhe abandonando e negando; sua audição sofreu ao ouvir aquele povo que gritava hosana, gritando agora crucifica-o com tamanha fúria, e por fim, seu olfato e paladar sofreria com o gosto e o cheiro daqui-lo que o ofertavam. Seu ser sofreu em completude. E foi por nós.

Mesmo diante de tanto amor, ainda duvidamos.

Duvidamos de Deus, de Cristo, de nós mesmos. Até nós, cristãos, muitas vezes vivemos sem confiança plena. Um pequeno abalo já basta para que vacilemos.

Os apóstolos ouviram: “Um de vós me trairá.” e todos ficaram angustiados, perguntando: “Serei eu?”

A fé de Pedro, a pedra, tremeu. A de Judas, já enfraquecida, não resistiu. E ainda assim, Jesus os amava. A resposta que damos a Cristo está em nosso coração. Está em nossa fé.

Como anda a nossa fé?

Acolhemos o sofrimento com esperança? Confiamos no Amor que venceu a morte? Ou, diante das dificuldades, perguntamos: “Serei eu, Senhor, a Ti trair?”

Se a tua fé vacila, reza. Se estás fraco, pede. Como disse São João da Cruz: “No entardecer da vida, seremos julgados pelo amor.”

Não tenha medo de amar.

Não tenha medo de crer.

Cristo venceu. E Ele está contigo.

“Senhor Deus, que nos fizestes participar da redenção, concedei que vivamos de tal modo este mistério na vida presente, que alcancemos o seu pleno fruto na eternidade. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.” Oração final – Missal da Semana Santa (Quarta-feira Santa)

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.