Estamos nos aproximando do Calvário.
Lázaro, de volta a vida, era um sinal incontestável de que as promessas das Escrituras estavam se cumprindo. Como disse o profeta Isaías: “Os mortos viverão, os cadáveres ressuscitarão; despertai e exultai, vós que habitais no pó” (Is 26,19). A ressurreição de Lázaro foi mais que um milagre — foi um prenúncio da vitória final sobre a morte.
A presença de Jesus causava temor entre os poderosos, pois Ele era a luz anunciada nas trevas, o Servo Sofredor que viria trazer libertação: “Ele foi desprezado e rejeitado pelos homens, homem de dores, familiarizado com o sofrimento… pelas suas feridas fomos curados” (Is 53,3.5). A sombra da cruz já se projetava, e o Cordeiro se aproximava do altar do sacrifício.
Naquele último encontro de amigos, já sentiam em seus corações que o que estava para acontecer se aproximava. Maria de Betânia, como que a preparação de um corpo de um rei, utiliza todas as suas economias para comprar o perfume que ungiria o Cristo. O nardo tinha uma fragrância única, e a presença de seu aroma era uma indicação de que o melhor havia sido oferecido.
Naquele último encontro dela como Cristo antes da paixão, Maria de Betânia realiza um gesto profético. Este ato, aparentemente simples, revela um profundo entendimento espiritual.
O Cântico dos Cânticos já falava da fragrância do nardo associada ao amor e à entrega total: “Enquanto o rei repousa, o meu nardo exala o seu perfume” (Ct 1,12). Maria não oferece apenas um perfume — ela oferece o seu tudo. Seu gesto ecoa o amor esponsal entre Deus e seu povo.
Jesus entende. Ele, o Ungido, o Cristo (do grego Christós, que significa “ungido”), reconhece naquele perfume o anúncio da Sua paixão. O próprio Davi foi ungido com óleo por Samuel como rei (1Sm 16,13). Agora, o verdadeiro Rei, Filho de Davi, é ungido para reinar do trono da cruz. A profecia de Isaías se aproxima do clímax: “Como cordeiro levado ao matadouro, Ele não abriu a boca” (Is 53,7).
Maria, ao enxugar os pés do Senhor com seus cabelos, entrega não apenas um gesto de adoração, mas de comunhão: “Cristo em mim”, como um clamor silencioso. Ela estava dizendo: Eu quero ser coberta por Ti, Tú És a minha Cobertura! Ela se torna a primeira a reconhecê-Lo não apenas como Mestre, mas como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1,29).
Enquanto Judas, por trinta moedas “fedia a pecado”, tramando a traição, o mal tramava mostrar o seu poder, Maria, com trezentas moedas em perfume, prepara o Cordeiro para o sacrifício. Deste mal, dez vezes mais… infinitamente mais, o bem haveria de vir! Onde o pecado abundou, a graça superabundou (Rm 5,20). Maria foi instrumento do bem que se antecipa ao mal.
A semente precisava morrer para dar fruto (Jo 12,24). Jesus sabia disso. E talvez, enquanto caminhava para o Gólgota, enquanto os açoites caíam sobre Suas costas, a fragrância do nardo ainda estivesse em Sua pele — lembrança do amor que O sustentava. Aquele aroma era mais do que perfume: era memória viva da entrega e do amor.
“Ó Deus, que fizestes o vosso Filho sofrer por nós o suplício da cruz, para nos libertar do poder do inimigo, concedei-nos alcançar a graça da ressurreição. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém.” (Missal Romano, Segunda-feira da Semana Santa – Ano C)
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