A celebração do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor está profundamente enraizada nos Evangelhos, mas suas raízes mergulham muito antes disso — nos Salmos, nos Profetas e em todo o Antigo Testamento.
Deus, em Sua sabedoria eterna, teceu a história da salvação como uma grande catequese, onde nada está fora do lugar. Tudo foi anunciado, tudo foi preparado.
A catequese perfeita de Deus interliga todos os pontos da história. Como disse Santo Agostinho: “O Novo Testamento está escondido no Antigo, e o Antigo se revela no Novo.”
O Domingo de Ramos inicia a Semana Santa com um aparente paradoxo: a aclamação gloriosa do Rei que vem para morrer.
A multidão agita ramos e grita: “Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” (Mt 21, 9)
Mas esses gritos já ecoavam há séculos nas liturgias do povo de Israel. No Salmo 118 recitado nas grandes festas, estava profetizado:
“Salvai-nos, Senhor! Hosana! Dai-nos prosperidade, ó Senhor! Bendito o que vem em nome do Senhor!”(Sl 118, 25-26)
“Hosana” é um clamor messiânico que significa: “Salva-nos, Senhor!”. A multidão proclamava, ainda que sem plena consciência, que Jesus era o Messias. Mas Ele não veio com armas ou exércitos. Veio com mansidão, montado num jumentinho.
“Exulta de alegria, filha de Sião! Solta gritos de júbilo, filha de Jerusalém! Eis que vem a ti o teu rei; justo e vitorioso, humilde, montado num jumento, num jumentinho, cria de jumenta.” (Zc 9,9)
Essa profecia de Zacarias é um retrato fiel da entrada triunfal de Cristo. O Messias vem em humildade, revelando que o Reino de Deus não se impõe pela força, mas pelo amor que se entrega.
São Bernardo de Claraval advertia: “Muitos seguem a Cristo até a Eucaristia, poucos até o Calvário.”
A mesma multidão que gritava “Hosana” gritará, dias depois, “Crucifica-o!”. Mas a catequese divina não falha: tudo foi anunciado, tudo foi preparado.
“Até o meu amigo íntimo, em quem eu confiava, que comia do meu pão, levantou contra mim o calcanhar.” (Sl 41[40],10)
“Eles me pagaram trinta moedas de prata… E o Senhor me disse: ‘Lance isso ao oleiro’.” (Zc 11,12-13)
A traição de Judas não foi surpresa para o Cristo. Ele sabia, e ainda assim amou até o fim. Mateus liga diretamente essa profecia ao destino de Judas (Mt 27,9-10). Deus escreve com precisão, mesmo em meio ao caos do pecado humano.
São João Crisóstomo observa: “O traidor se alimentava do Pão da Vida, mas seu coração já havia se alimentado da morte.”
“Foi maltratado e submeteu-se, não abriu a boca… como cordeiro levado ao matadouro.” (Is 53,7)
“Foi traspassado por causa de nossas transgressões… o castigo que nos traz a paz estava sobre ele.” (Is 53,5)
Isaías descreve o Servo Sofredor com detalhes impressionantes. Jesus, no julgamento, permanece em silêncio. Não se defende, não busca se justificar — oferece-se voluntariamente como cordeiro.
“Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?” (Sl 22,1)
Jesus reza o Salmo 22 na cruz. É um clamor de dor, mas também de esperança. O salmo termina em louvor, e Jesus o conhecia de cor. Ele mergulha nas profundezas da dor humana, mas não abandona o Pai — reza a Ele.
“Transpassaram minhas mãos e meus pés… repartem entre si as minhas vestes e lançam sortes sobre a minha túnica.” (Sl 22,17-19)
As cenas do Calvário cumprem palavra por palavra o que estava nos salmos.
A cruz não é derrota. É cumprimento.
“Sabendo Jesus que tudo estava consumado, para que se cumprisse a Escritura, disse: ‘Tenho sede’.”(Jo 19,28)
Essa sede vai além da física. É sede de almas. É sede de salvação. É a sede do Amor que quer ser amado.
Santa Teresa de Calcutá dizia: “A sede de Jesus na cruz não era por água, mas por ti e por mim.”
E o que Ele recebe?
“Deram-lhe vinagre para beber.” (Sl 69,22; Jo 19,29)
O doce Amor de Deus recebe vinagre como resposta. Mesmo assim, Ele bebe até o fim. Nada fica por cumprir.
“Quando Jesus tomou o vinagre, disse: ‘Está consumado’. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito.” (Jo 19,30)
Estas não são palavras de derrota, mas de vitória. Tudo foi cumprido! O plano do Pai foi realizado! O véu do Templo se rasga! O céu se abre! O Cordeiro foi imolado!
São Paulo exclamava com admiração: “Ele me amou e se entregou por mim! (Gl 2,20)
Santo Afonso de Ligório reflete: “Jesus morreu para mostrar até onde vai o amor de Deus. Um amor que se entrega sem medidas.”
E agora? Qual será nossa resposta?
Reconheçamos com o coração rasgado que Cristo morreu por nós.
Por nós, Ele entregou Sua vida!
Que nossa resposta seja gratidão, conversão e entrega.
Nós vos adoramos, Senhor Jesus Cristo, e vos bendizemos, porque pela vossa santa cruz remistes o mundo.
Santa Edith Stein nos lembra: “Quem ama, compreende a Cruz.”
Que neste Domingo de Ramos, e em toda a Semana Santa, possamos também nós clamar “Hosana” — mas com um coração que segue Jesus até o Calvário.
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