No Evangelho deste quarto domingo da Quaresma (Lc 15,1-3.11-32), somos convidados a olhar para o filho mais velho da parábola do Filho Pródigo — aquele que sempre esteve com o pai, mas cujo coração não soube acolher a misericórdia.
A Sagrada Escritura nos recorda: “A quem muito foi dado, muito será exigido; e a quem muito confiaram, muito mais será pedido” (Lc 12,48). Esse filho mais velho representa aqueles que receberam muito: permaneceram na casa do Pai, conheceram Seus mandamentos, partilharam da Sua intimidade. Mas, ao invés de se alegrarem com o retorno do irmão, deixam-se consumir pela inveja e pela justiça própria.
É significativo que, na primeira leitura (Js 5,9a.10-12), o povo de Israel finalmente chega à Terra Prometida. O maná cessa, porque agora eles são chamados a viver do fruto da terra, a trabalhar e dar fruto. Toda a catequese do deserto tinha um objetivo: prepará-los para uma vida de responsabilidade e maturidade na liberdade. Do mesmo modo, nós, que já provamos das graças de Deus, somos chamados a viver não de consolações provisórias, mas dos frutos do Espírito.
São Paulo nos exorta na segunda leitura (2Cor 5,17-21): “Somos, portanto, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós.” Estar na casa do Pai, permanecer fiel aos Seus ensinamentos, não é motivo para soberba, mas para serviço. O irmão mais velho não compreendeu que seu papel não era apenas obedecer, mas também aprender a amar como o Pai ama.
Santa Teresa de Calcutá dizia: “Não somos chamados a ser bem-sucedidos, mas fiéis.” E fidelidade aqui significa assumir o coração misericordioso do Pai, que se alegra mais por um só pecador que retorna do que por noventa e nove que não se perderam (Lc 15,7).
O Papa Bento XVI também nos recorda: “A verdadeira conversão consiste em sair de si e aceitar o outro, aceitar que Deus é maior que o nosso coração.” O filho mais velho precisava dessa conversão: entender que tudo o que é do Pai já era dele, mas que isso exigia dele uma maturidade espiritual maior — a capacidade de acolher, perdoar, alegrar-se pelo outro.
Neste domingo, o convite não é apenas para aqueles que estão afastados, mas sobretudo para nós, que permanecemos na casa do Pai. Somos os filhos mais velhos. E, como tal, temos uma missão: deixar que o coração do Pai transforme o nosso, que Sua misericórdia cure nossa dureza e que sejamos, no mundo, testemunhas de um amor que não se ressente, que não inveja, mas que sempre acolhe e espera.
Que a Virgem Maria, Mãe da Misericórdia, nos ensine a ter um coração como o do Pai.
Deixe um comentário