4º Domingo da Quaresma – Ano C
“Alegra-te, Jerusalém! Reuni-vos, vós todos que a amais; vós que estais tristes, exultai de alegria! Saciai-vos com a abundância de suas consolações!” (Is 66, 10-11)
Este é o chamado Domingo Laetare – “Domingo Alegra-te” –, um momento de júbilo em meio à sobriedade da Quaresma. Já atravessamos metade do caminho penitencial e nos aproximamos da grande celebração pascal. O Missal nos introduz com estas palavras do Profeta Isaías, que anunciam esperança e plenitude.
As leituras deste domingo nos conduzem por essa mesma alegria: o livro de Josué narra a celebração da Páscoa na terra prometida, a carta aos Coríntios nos exorta à reconciliação, e o Evangelho de Lucas nos apresenta a inesgotável misericórdia divina na parábola do filho pródigo. Mas há detalhes preciosos que podem passar despercebidos nas homilias, e é sobre eles que desejo refletir.
“Somos, pois, embaixadores de Cristo, e é Deus mesmo que exorta através de nós. Em nome de Cristo, nós vos suplicamos: deixai-vos reconciliar com Deus.” (2Cor 5,20)
A palavra “embaixador” tem um peso significativo. No contexto diplomático, trata-se da mais alta autoridade de um país em território estrangeiro, aquele que representa sua pátria e defende seus interesses. De maneira análoga, nós, cristãos, somos os embaixadores de Cristo no mundo.
São Paulo nos lembra que nossa verdadeira pátria não está aqui, mas nos Céus (Fl 3,20). Como Jesus disse: “Eles não são do mundo, como também eu não sou do mundo” (Jo 17,16). Nossa existência terrena é uma peregrinação, e enquanto caminhamos, devemos agir como cidadãos do Reino, refletindo a vontade de Deus e levando sua luz ao mundo.
Na primeira leitura, o povo de Israel, após anos de peregrinação pelo deserto, finalmente celebra a Páscoa na terra prometida. “No dia seguinte à Páscoa, comeram dos produtos da terra” (Js 5,11). O maná cessou, pois agora podiam viver do fruto da terra boa, que jorra leite e mel.
Isso se aplica também a nós. Fomos alimentados pelo verdadeiro Pão do Céu – Cristo na Eucaristia – e nos tornamos novas criaturas. Experimentamos a graça celeste antecipadamente. Agora, fortalecidos, devemos sair ao mundo e dar frutos.
“Vós não me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi e vos designei para que vades e produzais fruto, e o vosso fruto permaneça” (Jo 15,16)
São João Crisóstomo dizia: “Nada é mais frio do que um cristão que não se preocupa com a salvação dos outros.” Se recebemos esse dom, não podemos guardá-lo para nós. Nossa vida precisa ser reflexo da fé que professamos.
Como embaixadores de Cristo, nossa missão é clara: reconciliar o mundo com Deus, manifestar sua misericórdia e viver como filhos da luz. O próprio Jesus nos ensina:
“Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,16)
Não fomos chamados para viver na inércia, mas para ser sal da terra e luz do mundo. Se o sal perde o sabor, para nada mais serve (Mt 5,13). Se a luz se esconde, como iluminará o caminho?
Portanto, que este domingo seja para nós um ponto de renovação. Já nos aproximamos da Páscoa, já nos foi dado o perdão e o alimento necessário, já recebemos a missão.
Agora, resta-nos sair e frutificar. Que possamos ser verdadeiramente representantes de Cristo nesta terra, trazendo a todos a mensagem de reconciliação, alegria e esperança.
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