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O Aguilhão da Morte

“O aguilhão da morte é o pecado, e a força do pecado é a Lei.” (1 Coríntios 15,56)

Na linguagem bíblica, o aguilhão era um bastão pontiagudo usado para conduzir animais. Simboliza dor, controle e direção. Quando Paulo afirma que “o aguilhão da morte é o pecado”, ele mostra que o pecado fere e conduz o homem ao abismo, assim como um aguilhão impulsiona um animal para onde não quer ir. Cristo, ao vencer a morte, quebrou esse aguilhão, tirando do pecado sua força de condenação.

Paulo ouviu essa mesma metáfora da boca do próprio Cristo em sua conversão:

“Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura coisa é recalcitrares contra os aguilhões.” (Atos 26,14)

Ele, como um boi rebelde, resistia à verdade, mas Cristo o chamou a se render.

Paulo faz uma afirmação que parece contraditória à primeira vista: a força do pecado é a Lei.

A Lei, que deveria ensinar o certo e o errado, acaba fortalecendo o pecado. Como? Ela age como um espelho, tornando o pecado mais evidente. Antes, o homem podia errar sem plena consciência, mas ao conhecer a Lei, sua rebeldia se intensifica.

Paulo ensina:

“A Lei nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que pela fé fôssemos justificados.” (Gálatas 3,24)

O aio era um tutor que guiava as crianças até a maturidade. Da mesma forma, a Lei não é um fim, mas um meio para levar o homem a Cristo. No entanto, o contato com a Lei não purifica automaticamente. Pelo contrário, faz crescer o pecado, pois aquilo que antes era ignorado, agora se torna desafio e transgressão:

“Sobreveio a Lei para que avultasse a ofensa.” (Romanos 5,20)

A ignorância, por outro lado, não anula o pecado, mas pode diminuir sua culpa:

“Se alguma pessoa pecar e fizer contra algum de todos os mandamentos do Senhor aquilo que se não deve fazer, ainda que o não soubesse, contudo, será culpada e levará a sua iniquidade.” (Levítico 5,17)

Cristo reafirma esse princípio:

“Aquele servo que conheceu a vontade de seu senhor e não se aprontou, nem fez segundo a sua vontade, será punido com muitos açoites. Aquele, porém, que não soube a vontade de seu senhor e fez coisas dignas de reprovação, levará poucos açoites.” (Lucas 12,47-48)

Assim, quanto maior o conhecimento, maior a responsabilidade. Rejeitar a verdade após conhecê-la é mais grave do que pecar sem plena consciência.

A Lei, portanto, não é a solução para o pecado, mas a revelação de sua gravidade. Sua finalidade última é levar o homem à Graça de Cristo, onde a verdadeira liberdade é encontrada.

Ou seja, sem a Graça, a Lei apenas condena; mas em Cristo, ela se torna caminho para a santidade.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.