Os sermões de Cristo, especialmente o Sermão da Montanha e o Sermão da Planície, são momentos emblemáticos de Suas instruções sobre como viver a Lei de Deus, agora transformada e cumprida pelo amor.
Ambos os sermões trazem um chamado ao discipulado, mas de formas diferentes: enquanto o Sermão da Montanha nos apresenta as Bem-aventuranças como um ideal de vida, o Sermão da Planície se aprofunda diretamente na vivência pessoal dessa Lei, com um tom mais íntimo e direto aos discípulos. Este último também nos revela, em sua estrutura, a dinâmica das antigas Alianças de Deus, unindo bênçãos e maldições, mostrando como a obediência à Lei de Deus resulta em vida e paz, enquanto a desobediência traz consequências.
Contudo, o mais notável é como Jesus não apenas ensinou essas lições, mas as viveu de maneira perfeita e radical até o fim de Sua vida.
Ao refletirmos sobre os momentos de Sua crucificação, vemos o cumprimento de tudo o que Ele pregou.
Jesus, enquanto pregava sobre amar os inimigos e perdoar aqueles que nos maltratam, demonstrava essa prática de forma concreta na cruz.
“Se alguém te der uma bofetada numa face, oferece também a outra.” (Lc 6, 29)
No caminho da cruz, Jesus foi agredido fisicamente, teve Seu rosto esbofeteado, e, no entanto, ofereceu a outra face.
São Agostinho comenta: “A paciência de Cristo diante das ofensas revela a força do amor que Ele nos ensinou”
“Se alguém te tomar o manto, deixa-o levar também a túnica.” (Lc 6, 29)
Durante o processo de crucificação, os soldados romanos tiraram as vestes de Jesus e as dividiram entre si, mas Jesus não resistiu.
São João Paulo II reflete: “A cruz de Cristo é o símbolo de um amor que nos ensina a dar sem reservas.”
“Dá a quem te pedir.” (Lc 6, 30)
E pediram-lhe na cruz: “Senhor lembra-te de mim quando estiverdes no paraíso” e mesmo no sofrimento Cristo o atendeu.
São Paulo escreveu em sua carta aos Romanos (5, 8): “Deus prova o Seu amor para conosco, em que, quando ainda éramos pecadores, Cristo morreu por nós.”
Quando Ele foi zombado, espancado, e finalmente crucificado, Sua resposta foi uma oração de perdão: “Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem” (Lucas 23, 34). Aqui, Ele não apenas falou sobre o amor, mas se entregou por ele.
O Sermão da Planície nos exorta a ser como Cristo: “Amai os vossos inimigos e fazei o bem aos que vos odeiam” (Lucas 6, 27). Na cruz, Cristo não só nos mostrou o que isso significava, mas nos ensinou com Sua atitude o verdadeiro valor do perdão e da entrega. São João Crisóstomo nos lembra que “a mais perfeita imitação de Cristo é amar e perdoar aqueles que nos perseguem”. Jesus não apenas nos chamou a viver essas virtudes, mas também as viveu até o último momento.
Essa radicalidade do exemplo de Cristo leva-nos a uma reflexão profunda sobre o que significa viver o Evangelho de maneira íntegra. Não basta falar; é necessário viver de acordo com aquilo que pregamos.
Jesus não apenas ensinou o amor, a paciência, o perdão e a entrega, mas os viveu em cada ação durante Sua Paixão, especialmente na cruz, onde se despojou de tudo e entregou Sua vida por amor a nós.
Portanto, ao refletirmos sobre esses sermões e sua conexão com o Calvário, somos chamados a não apenas escutar as palavras de Cristo, mas a segui-Lo na prática.
A vida de Cristo é o exemplo perfeito de como o amor deve ser vivido, não como um ideal distante, mas como uma realidade que se expressa em cada ato de entrega e sacrifício. Que possamos, assim, viver como Ele viveu, amando sem medidas, perdoando sem reservas, e sempre entregando-nos ao serviço do outro.
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