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Estavam nus, mas não sentiam vergonha

“O homem e a sua mulher estavam nus, mas não sentiam vergonha” (Gn 2, 25)

Como a pura inocência das crianças, que tudo o que sabem veio por intermédio de seus pais, com o conhecimento de mundo e vivências do seu lar. Elas andam sem roupas, em total liberdade, sem malícia, e seus corações permanecem puros.

O que é certo ou errado para elas é determinado pelos pais, que as guiam e as protegem. O sustento de uma criança é responsabilidade dos pais, e ela não carrega culpa por suas ações.

Adão e Eva estavam nus no jardim, mas não sentiam vergonha, vivendo em harmonia tanto com Deus quanto entre si. O estado de pureza e unidade representado pela sua nudez simbolizava a confiança mútua e a perfeição da criação.

“Quando a mulher viu que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso, desejável para dela se obter discernimento, tomou do seu fruto, comeu-o e ­o deu a seu ma­rido, que comeu também. Os olhos dos dois se abriram, e perceberam que estavam nus; então juntaram folhas de figueira para cobri­r-se.” (Gn 3, 6-7)

Após desobedecerem a Deus e comerem do fruto proibido, passaram a sentir vergonha. A primeira consequência do pecado de Adão e Eva, foi a abertura de seus olhos, e o conhecimento de que estavam nus. A vergonha se tornou uma experiência imediata.

Eva escolheu comer do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, nisto poderia escolher com consciência o que fazer, porém, com total responsabilidade e culpa por suas escolhas.

A nudez, antes símbolo de união, pureza e confiança, agora tornou-se um símbolo de vulnerabilidade e insegurança.

Adão também havia rompido sua aliança com Deus, e não só Eva, então, ao perceber a corrupção de sua esposa, também se sentiu culpado, corrompido e indigno. O pecado de ambos gerou uma profunda desconexão.

O sentimento de culpa e vergonha que se instaurou em Adão refletiu a dor da separação com Deus e a perda da inocência.

Na tentativa de lidar com essa nova realidade, Adão e Eva tentaram cobrir suas vergonhas fabricando roupas de folhas de figueira.

Quando perceberam a presença de Deus no jardim, esconderam-se, envergonhados. Adão disse a Deus: “Escondi-me porque estava nu” (Gn 3, 10).

O problema, no entanto, não estava no exterior, mas na consciência de que haviam pecado e não conseguiam esconder essa falha. Esse sentimento de vergonha, no fundo, é um reflexo da culpa interna, do temor de ser descoberto e confrontado com a falha cometida.

E é impossível esconder o pecado de Deus, que vê tudo, como vemos em Jó 28, 24 e Hebreus 4, 13.

“Porque ele vê as extremidades da terra, e vê tudo o que há debaixo dos céus” (Jó 28, 24)

“Não há nada que se possa esconder de Deus. Em toda a criação, tudo está descoberto e aberto diante dos seus olhos, e é a ele que todos nós teremos de prestar contas” (Hb 4, 13)

Porém, em meio à vergonha, também há sinais de esperança, quando Deus promete a derrota da serpente. Sua misericórdia aponta para um dia em que Ele resolverá a questão da vergonha de forma definitiva e permanente, através do sacrifício de Seu Filho, como a morte dos animais que com suas peles serviram para cobrir Adão e Eva. Ele fará isso com o sangue de Cristo e com as vestes da justiça, conforme Gálatas 3, 27 e Filipenses 3, 21.

“Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (Gál 3, 27)

“O qual transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp 3, 21)

As vestes que Deus nos oferece são um testemunho do nosso fracasso, mas também uma promessa de glória futura. Elas simbolizam a separação entre o que somos e o que deveríamos ser, mas, ao mesmo tempo, refletem a misericórdia de Deus.

Através de Jesus Cristo, Ele cobre nossa separação e nos oferece perdão, trazendo-nos de volta à harmonia e à unidade que existiam no princípio. Essa vestimenta não é apenas um símbolo, mas um sinal de esperança de que, embora tenhamos falhado, a graça de Deus nos restaura e nos prepara para uma gloriosa transformação no futuro.

Assim, a vergonha que experimentamos hoje será substituída pela glória de Deus, e a verdadeira união com Ele será restaurada em Cristo.

No Eco da Palavra, buscamos refletir sobre os detalhes das leituras diárias que podem passar despercebidos nas homilias. Cada versículo tem uma riqueza infinita, e aqui, ecoamos essas pequenas grandes revelações para alimentar a fé e aprofundar a vivência da Palavra de Deus no dia a dia.